Os pioneiros da Fotografia Moderna
No final do século XIX e início do XX, os fotógrafos brasileiros e europeus adotavam um modelo de imagem chamado pictoralista. Segundo Helouise Costa e Renato Rodrigues da Silva, autores do livre A Fotografia Moderna no Brasil (Cosacnaify - 2004), era um método no qual o fotógrafo intervinha em todas as etapas do processo fotográfico com o objetivo de assemelhar a imagem captada a pinturas do século XIX, na tentativa de dar um ar de obra de arte.
"A solução encontrada pelos pictoralistas na busca de uma fotografia artística resultou em uma verdadeira imitação dos padrões da pintura do século XIX: romantismo, naturalismo, realismo e impressionismo desfilavam, de forma algo patética, nos salões do mundo inteiro". (COSTA E RODRIGUES, 2004, p. 26)
Nos EUA e na Europa, alguns fotógrafos começam a se desvincilhar desse método, seguindo os movimentos modernistas no campo cultural do início do século XX. No Brasil, isto é impulsionado devido aos movimentos de fotoclubismo a partir de 1939. Apesar de nascerem vinculados ao método pictoralista, a formação de um deles, segundo Helouise e Rodrigues, "alcançaria mais tarde destaque nacional como pólo agenciador da produção fotográfica moderna brasileira".
É o Foto Clube Bandeirante, fundado em 28 de abril de 1939, em São Paulo. O nome tem justamente o sentido de desbravar uma modalidade artística pouco explorada no país, em consonância com o trabalho de grupos renovadores internacionais. A organização, o número de adeptos cada vez maior e a colaboração da prefeitura de São Paulo fizeram com que a organização aumentasse e criasse um departamento específico de cinema, mudando seu nome para Foto Cine Clube Bandeirantes (FCCB).
Responsável pelo I Salão de Arte Fotográfica de São Paulo, o FCCB, que já editava a revista Boletim Foto Cine, com os resultados de seus concursos, consegue uma sede própria no final da década de 40. É o marco para o início da fotografia moderna no Brasil.
"A fotografia moderna no Brasil surgiu e se desenvolveu no Foto Cine Clube Bandeirante. Os fotógrafos bandeirantes concretizaram uma transformação que abalou a tradição pictoralista e acadêmica do movimento amador. Embora haja notícias de especulações modernas esparsas fora do ambiente fotoclubista, a documentação até agora levantada aponta que essa prática só se realizou sistematicamente e como experiência de grupo no FCCB". (COSTA E RODRIGUES, 2004, p. 36)
Os pioneiros da quebra do método pictoralista, segundo os autores do livro, se lançaram na formação de uma nova visão, que durou até 1950. Tratava-se de abrir possibilidades para a construção de uma nova linguagem, em uma visão pessoal, intuitiva e sem um projeto explícito de modernidade. Foram eles José Yalenti, Thomas Farkas, Geraldo de Barros e German Lorca.
"Essa experiência ocorreu em um ambiente extremamente conservador e, no entanto, provocou uma profunda renovação na prática fotográfica, chegando ao mais puro radicalismo moderno". (COSTA e RODRIGUES, 2004, p. 37)
Este texto, que narra de forma breve e simplista a evolução da fotografia pictoralista a moderna, apenas descreve tal passagem histórica e cita os seus responsáveis por essa mudança no Brasil. Isso deve suscitar as pessoas que o lerem a se aprofundarem mais sobre o assunto que é extenso e saboroso. Há diversos outros fatores que impulsionaram a fotografia moderna brasileira, mas que ficam aqui por hora desnecessários de citar devido ao objetivo do texto.
A partir de agora inicia-se a série: Os Pioneiros da Fotografia Moderna. O primeiro da lista é José Yalenti. As considerações e análise são de Helouise Costa e Renato Rodrigues da Silva, recortados do livro, e de outras pesquisas virtuais.
José Yalenti, mestre da contraluz e da geometrização
Conhecido com mestre da contraluz e da geometrização dos motivos, José Yalenti, engenheiro civil pela Escola Politécnica da Universidade de São Paulo e combatente do Movimento Constitucionalista de 1932, torna a Fotografia Arquitetônica uma tendência definitiva e definida pelo FCCB.
Yalenti deu enfase a linhas e planos, seus recortes urbanísticos tirou da imagem a centralização de objetos e deu as cenas um campo geométrico. Com a exploração da luz, há o abandono do modo clássico de iluminação que busca a harmonia com os objetos. Isto quebra a unidade da cena e deixa em evidência a interferência do fotógrafo.
Primogênito de sete filhos de imigrantes italianos, Yalenti nasceu em São Paulo, em 1895. Foi um dos fundadores do Foto Clube Bandeirante, do qual foi membro até falecer aos 72 anos, em 1967. Na próxima semana, o texto a seguir desta série e sobre Thomas Farkas.
Legendas das fotos de cima para baixo:
1 - Exemplo de pictoralismo: Alexander Keighley, Inglaterra, 1913
2 - Integrantes do Foto Cine Clube Bandeirante
3 - Caracol, 1950 - José Yalenti
4 - Embarque, 1945 - José Yalenti
5 - Miragem, 1950 - José Yalenti
6 - Paralelas e Diagonais, 1945 - José Yalenti
7 - Convergentes, 1950 - José Yalenti
8 - José Yalenti, ao fundo de óculos e bigode
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