quarta-feira, 31 de março de 2010

A HORA DA CRISE




É dito que o homem do final do séc.XX perdeu sua identidade, antes fundamentada no indivíduo pleno (concepção iluminista) ou numa sociedade que conferia sólidas referências que valoravam a vida (concepção sociológica). A perda de identidade está ligada à concepção pós-moderna, que acredita que o sujeito contemporâneo teve sua identidade fragmentada em inúmeros focos de interesse: sexuais, étnicos, culturais, profissionais, políticos etc.
Um segundo aspecto da crise atual está ligado à desintegração da URSS em 1991, acabando com as perspectivas reais de suplantar o capitalismo e implantar um novo modelo com base humanista. Politicamente, não temos perspectiva. E mesmo no âmbito individual, o homem da Era da Crise está determinado a conseguir um emprego em uma multinacional e se satisfazer com o consumo permitido pelo seu salário. Sem perspectiva política e sem que o consumo satisfaça realmente todas as suas necessidades, o homem contemporâneo encontra-se, mais uma vez, desamparado.
Por fim, mas sem encerrar as possíveis origens da crise atual, a própria lógica do consumo e do prazer fácil se arraigou com tal profundidade nos indivíduos pós-modernos que superficializamos as relações interpessoais por buscarmos prazer absoluto nas amizades, namoros, ou na família. Como os outros indivíduos são incapazes de nos proporcionar estes prazeres plenos e contínuos, os descartamos como produtos e não permitimos que as relações se efetivem, de fato.
Com tantos fatores de crise, não resta muita dúvida para compreender a banalidade que se insere o homem contemporâneo, seu anseio pelas drogas ou pela pornografia. Pelo prazer fácil e pelos grupos políticos radicais sem grandes dimensões. Em suma, buscamos ensandecidamente fugir da crise.
Como sair da crise, portanto? Não sabemos! Mas o que é fato é que pequenos grupos auto-orientados, como o Clube do Tchu, são excelentes experiências despretensiosas e sem fins de qualquer espécie. Ou seja, sem esperar lucros, projeção nacional, ou qualquer coisa do tipo, promovem-se atividades culturais, festas e reuniões simplesmente pelo prazer de promovê-las. E o que isto tem a ver com a crise, deve se perguntar o leitor?! Na verdade, nada! É o contrário dela, pois não tem fins políticos, nem procura uma identidade, nem se relaciona com o consumo. É um grupo que simplesmente quer ser grupo.
Vários Josés reunidos pra fazer qualquer coisa... porque qualquer coisa pode ser José.

6 comentários:

  1. ... mas um José não pode ser qualquer coisa.

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  2. Um josé pode ser o que quiser.
    Achei o texto muito interessante e também acho queatravés da satisfação cultural e com o próximo, sem esperar por resultados e relatórios é a melhor maneira de preeencher o vazio ou a crise como foi chamada no texto acima.

    Não obstante, creio que grupos como este motivam não apenas ao integrantes e sim aos de fora, que esperam pelas novidades das reuniões e esperam certas "direções" sobre o que ouvir, o que ler, o que valorizar. Tá bacanas Jão, tá bacana!

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  3. um José sozinho não faz verão. é isso ae mandou bem no texto.

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  4. gilles lipovetsky descreve nossa situação como a era do vazio, onde fomos transformados em produtos com a exclusão ideologica, criativa e das relações políticas e culturais entre pessoas..

    ao meu ver uma maneira de lidar com isso é a resistência, penso que os encontros (em casas ou praças) favorecem pois vão contrários a idéia de se encontrar em espaços de consumo (empresas, shoppings, baladas) onde não há convivência, mas relações entre falsos seres (máscaras) que se consomem e são consumidos (por eles mesmos e pelo mercado)

    e precisamos cair na real que não estamos nos anos 60 e não há grandes revoluções.. a grande revolução foi a que nos fez consumistas e imbecis que hoje somos, o que tentamos (sozinhos ou em grupo) é resistir essa ideologia individualista e desumana.. que por vezes ainda estamos inseridos nela em alguns aspectos

    independente do que fizermos (sozinhos ou em grupo), quem se interessar vai se aproximar e quem se desinteressar vai distanciar..

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  5. Rapeize, toda a discografia do Silvio rodriguez
    http://muzikeria.blogspot.com/2008/05/silvio-rodriguez-discografia-completa.html

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  6. eu não sei se a gnt tá em busca de alguma compreensão.
    não sei aonde estamos indo.
    sequer sei se vamos chegar.
    mas a meu ver, o que realmente importa, é que estamos nos MOVIMENTANDO . . .

    beijos

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