sábado, 10 de abril de 2010

Hermeto Pascoal- Entre o riso e o êxtase




À primeira vista, a música de Hermeto Pascoal pode parecer risível, até mesmo ridícula para os mais desavisados. O músico utiliza as mais diversas possibilidades de se fazer som, para ele qualquer coisa se transforma em instrumento musical: canos, piscina de plástico, paredes de uma caverna, bichinhos de borracha, broca de dentistas, chaleira, até um porco já foi usado pelo músico para uma apresentação no Teatro Municipal de São Paulo. No entanto, vencida essa primeira barreira, que mais do que ser a do ridículo é a do estranhamento, nota-se que suas composições são de uma beleza e qualidade raras vezes escutadas na música contemporânea.
Hermeto faz arranjos complexos e moderníssimos utilizando ritmos da música brasileira como o choro, o baião, o forró, sempre de forma livre, improvisada quando a apresentação é ao vivo, o que pode lembrar a maneira jazzística de se compor, e dessa operação surge o que ele batizou de Música Universal.
Não seria exagero afirmarmos que Hermeto Pascoal é um dos principais músicos em atividade no mundo. Para ele música é coisa muito séria. Hermeto nasceu para a música assim como a música se sente muito à vontade ao lado dele, os dois se completam da mesma maneira que Pelé e a bola. Há alguns anos ele escreveu um livro de partituras chamado Calendário Do Som, no qual publicou 366 músicas, uma para cada dia do ano - não se esquecendo do bissexto 29 de fevereiro. Com isso, Hermeto teve a generosidade de homenagear toda a humanidade com sua música. Agora todos temos uma música para o dia do aniversário e um dos presentes mais bonitos que já recebi foi a gravação da música em homenagem ao dia em que nasci. Questionado por uma repórter sobre a dificuldade de se fazer uma música por dia, Hermeto respondeu com uma pergunta mais ou menos assim: - A senhora não consegue fazer uma reportagem por dia? Então...
A musicalidade em sua vida é tão forte que o músico já afirmou que sua religião, sem demagogia nenhuma, é a Música. A questão é que vencida a primeira barreira, seja a do risível ou do estranhamento, a música livre de Hermeto Pascoal tem a capacidade de levar seu ouvinte ao êxtase. Depois de um show de Hermeto Pascoal ou da audição de suas obras, a sensação é a de que nossa alma foi lavada, há um orgulho, raro nos momentos atuais, que é o de ser humano, o de dar vôo mais alto que o dos pássaros, de ter a capacidade de vencer a barreira da bestialidade e aspirar a algo mais nobre que as necessidades materiais tão em voga nos nossos dias. Longa vida ao Mestre!

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