terça-feira, 13 de abril de 2010

Urbanismo é muito mais...



Ao analisarmos nossas cidades (as grandes e brasileiras), não podemos desconsiderar determinados fatores, que vistos a partir do senso comum, aparentam ser mais simples do que realmente são. O atual problema da violência urbana, por exemplo, não está restrito à classe social. Ele é resultado de uma série de fatores, que passa, inevitavelmente, pelas precárias condições de sobrevivência nos bairros e comunidades periféricas. Lugares onde a violência, quase sempre, está relacionada a questões estruturais, como moradia, oportunidades de emprego, saúde e saneamento básico. Porém, destaco o problema do saneamento, colocando-o como primeira peça do nosso quebra-cabeça. A partir da analise de suas conseqüências, poderemos enfatizar a importância do urbanismo, visto por vários ângulos.

O déficit do saneamento básico significa uma ameaça ao bem estar do homem e caminha lado a lado com sua (falta de) dignidade. Inundações, lixos, doenças infecciosas, preconceitos... Resultarão ao longo do tempo em revolta dos moradores, que por sua vez poderão gerar violência. Desemprego, drogas, assaltos, toques de recolher, tiroteio, prostituição...
Com o crescimento da violência também cresce o medo. Muitas pessoas mudam suas práticas sociais a fim prevenirem. Evitam sair à noite, adotam vidros fechados e/ou blindados, casas isoladas, muros altos, câmeras, sensores e se restringem aos espaços privatizados, onde estão instaladas “pessoas seletas”.

Vivem como “Caramujos”, enroscadas e protegidas. Uma proteção que também é alcançada por meio de estruturas de condomínio, que dividem a cidade em blocos de pessoas supostamente “iguais”. De dentro dos condomínios fechados cultivam um relacionamento de ruptura com o entorno mais próximo, a rua, o resto da cidade, elaborando um processo onde se organiza as diferenças, desigualdades.

A massa que antes se aglomerava nos centros urbanos, hoje se reúne em pólos comerciais, mais preocupadas em consumir do que com um propósito comunitário. Trata-se de uma geração que cresce na maior parte do tempo se relacionando com máquinas, e se sente ameaçada com a presença de outros seres humanos: individualidade excessiva.

A intensa difusão da violência estabelece base de pensamento, principalmente, nas gerações mais jovens, e transformam-se em normalidade. Explorar o outro é regra geral como forma de convivência. Banaliza-se a morte como solução de conflitos. Assim, da individualidade, passamos facilmente á intolerância, e obviamente ao início desse ciclo: violência.

Desse modo, torna-se explícita a urgência de pensar o urbanismo, começando por sua função de promover uma melhor qualidade de vida através do saneamento básico, afim de evitar o “efeito borboleta” supracitado. É importante observar que o verdadeiro sentido do urbanismo vai além de um monte de canos, concreto e asfalto. Urbanismo é sobre “pessoas”. É sua responsabilidade criar eventos e situações que promovam uma relação entre indivíduos e contribuiam efetivamente para o desenvolvimento humano.

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